segunda-feira, 23 de julho de 2018

Tirem-me tudo, mas não me tirem a caixa!




Quando comecei a levar algumas coisas para a casa nova, comecei a colocar algumas delas em caixas para melhor ficarem organizadas.

E claro, eram estas caixas que iriam ser levadas nos primeiros dias da mudança de casa.

Os gatos são loucos por caixas, e por isso, logo reparei que, ao ver as caixas ali nos cantos da casa, eles iam logo aguçar as unhas no papelão como se elas fossem mais um brinquedo que ali estava. Tive de colocar mantas encima das caixas para as proteger senão, passados alguns dias, as caixa já estavam desfeitas.


Uma das caixas foi tão danificada, que aos poucos apareceu uma espécie de buraco numa das laterais, e quando me dei conta, reparei que ali a Diana Riscas começou a esconder-se para dormir e fazer de esconderijo.

Chegou então o dia em que tive de levar a tal caixa, e então deparei-me com uma situação bem curiosa.

A Diana Riscas, quando se deu conta que a sua caixa de esconderijo tinha desaparecido, começou a bufar para o Jordan, meteu-se debaixo da cama e começou a bufar para todos os cantos.

Até quando me viu, a Riscas fugiu assustada como seu eu fosse uma desconhecida para ela.


Desde que adotei a Diana Riscas, percebi que o seu comportamento é muito instável e altera-se a qualquer alteração do ambiente. A Diana Riscas não gosta de mudanças.

Claro que inicialmente não percebi o porquê dela estar a fazer tudo aquilo.

Entre as viagens de uma casa para a outra, fui meditando e aprofundando a questão.

Então, quando retornei a casa, abri uma caixa, fiz uma espécie de porta lateral com um buraco parecido com o que a outra caixa tinha, enchi com mantas e cobertores, que seriam os últimos a serem levados para a casa nova, e coloquei a caixa exatamente onde estava a outra.

A Diana Riscas quando viu a caixa, ficou logo entusiasmada. Cheirou a caixa toda e depois viu o buraco e logo lá entrou.


A partir de então, acabaram-se os bufos e as mudanças de humor da Diana Riscas. Aliás, nesta caixa, muitas das vezes iria encontrar não só a Diana Riscas como o  seu amigo inseparável, o Jordan.

Esta caixa foi a última a sair da casa antiga, e veio com eles quando nos mudamos de vez para a casa nova.

Durante todo o tempo em que a mobília e as caixas iam saindo aos poucos, Jordan e Riscas tinham o refúgio da caixa de papelão e da suas respetivas caixas transportadoras.

À medida que a casa ia se esvaziando, quase sempre os via ali dentro das suas caixas transportadoras.


Claro que dizem que os gatos não podem ver as coisas a sair da casa, mas por várias razões particulares, não conseguimos fazer esta mudança de casa de uma só vez.

Acho que no caso dos meus gatos, isso de fazer tudo mais devagarzinho, foi uma readaptação lenta à nova realidade que os esperava, e até foi menos penoso para eles.

Cada gato interagiu com estas mudanças de uma forma diferente.

A Diana Riscas adotou aquela caixa de papelão como refúgio, pelo que qualquer coisa que saísse já não lhe importava desde que esta caixa lá estivesse.

O Jordan olhava tudo com uma certa inquietação. Tive de lhe dar um relaxante natural indicado para os gatos, após aconselhar-me com a veterinária, para ele não ficar tão ansioso.


Penso que o Jordan demonstrou um medo de ser abandonado novamente. As coisas a saírem de casa aos poucos deu-lhe uma espécie de pânico no início, mas depois foi vendo que nós estávamos lá e ele acalmava.

E a Bia?


Como sabem, a Bia estava separada do Jordan e da Diana Riscas porque ela foi rejeitada por eles. Vários motivos levaram a este comportamento que ainda estou a avaliar, e por isso, ainda não escrevi um artigo sobre este assunto de uma forma mais clara.

No entanto, isso pode acontecer, e soube de casos de outras pessoas que têm gatos, que pode haver uma separação entre eles, e até mesmo uma definição muito rígida quanto ao que cada um tem num mesmo território.

Os gatos podem se dar bem durante anos, e de uma hora para a outra, criarem assim uma espécie de fronteira entre eles. Entender estas alterações depende essencialmente dos acontecimentos que antecederam esta mudança de comportamento. Por vezes, existem razões de saúde, outras vezes, a alteração rápida dos seus hábitos diários sem uma prévia adaptação, também pode ser uma das causas.

Mas adiante, pois o assunto deste artigo é como cada um dos meus gatos foi reagindo à mudança das coisas da casa antiga para a nova, de forma gradual.

No início a Bia não sentiu muito, aliás, como ela estava num quarto separado, não via as coisas a sair da porta fora, como os outros.

No entanto, ela foi vendo que os armários esvaziaram, que as caixas eram colocadas umas encima das outras num dos cantos do quarto.

No início, ela deu cabo de algumas caixas, pois a Bia adora raspar as unhas nas caixas e arrancar o papelão às dentadas. Uma caixa ao lado dela não dura nem uma semana, sem que fique toda aos pedaços.

E por isso, também ali comecei a colocar cobertores e mantas a cobrir as caixas para protege-las.

Isso de colocar esses cobertores e mantas é importante porque ficam com o cheiro deles. Pelo que aprendi com outras pessoas que passaram o mesmo com mudanças de casa com gatos, deixar estas mantas com o cheiro deles, para depois espalha-los na casa nova, para readapta-los, é muito importante.

E realmente, assim foi uma maneira de sempre os manter com os cheiros deles na casa antiga, mesmo sem os móveis e as outras caixas que iam saindo lentamente para a casa nova.

Com a casa vazia, a Bia começou a ter interesse em visitar os outros cômodos da casa. Aliás, ela fazia questão de ir ver exatamente os espaços vazios, cheira-los, e assim sentir que esta dimensão do vazio, também de certa forma, a libertava das memórias antigas.


A dado momento, por alguns instantes até a questão da falta de entendimento entre os meus três gatos ia também se resolvendo, porque havia mais espaço para andarem de um lado para o outro, e menos coisas que uns e outros pudessem dominar.

Cada vez mais, acredito que os gatos gostam de liberdade e por isso, a questão do espaço, especialmente para alguns gatos, é importante.

Claro que os queremos salvaguardar dos males da rua, e sim, devemos os manter no perímetro da nossa casa. Se cada tutor guardasse o seu gato essencialmente neste círculo de proteção, muitas situações de perigo não se passariam com eles, como os atropelamentos, envenenamentos e contágio de doenças por causa das lutas e disputas de território na rua.

No meu livro “Bia por um Triz” tenho alguns capítulos dedicados a esta vida de um gato de rua, e aos perigos não só ambientais, mas essencialmente, os mais graves, que se prendem para a falta de um habitat natural para eles nas grandes cidades, onde eles são deixados à sua sorte e risco, na maior parte das vezes.



“Na rua, temos de ficar maus para sobreviver. Os gatos de rua são mais ariscos porque já sofreram muito e são muito desconfiados. Também eu tive de aprender a ser desconfiada. Escondia-me depressa, pois desconfiava dos outros gatos e ainda mais dos humanos.  Tornei-me numa gata bravia, pois só assim podia roubar a comida dos outros gatos. Aprendi a usar as unhas.  Eu arranhava a todos que se aproximam de mim, sejam gatos, sejam humanos.”
(Página 31 do Livro “Bia por um Triz”)

O Jordan e a Bia foram gatos de rua, e por isso eles sabiam e temiam estas mudanças do ambiente, no entanto, cada um deles lidou com esta alterações com um comportamento diferente.

Por sua vez, a Diana Riscas pareceu-me muito mais presa às coisas da casa, pelo que a ausência delas lhe causou um impacto muito maior. A Diana Riscas nunca viveu na rua, foi adotada ainda muito jovem e, por isso, esta questão do que vai para além da porta de casa é uma incógnita.

Mas a mudança de casa ainda só estava no seu início, e ainda muito mais aconteceria nesta mudança gradual que irei continuar a partilhar convosco, especialmente quando nos últimos dias, a casa ficou realmente vazia de quase tudo.

Beijinhos da Bia e até o próximo artigo!




Este blogue não assume qualquer responsabilidade pelo seu conteúdo, pois é apenas uma partilha de vida, das histórias que me contam e especialmente daquilo que vivo no dia a dia com os meus gatos. Não tenho qualquer intenção de dar conselhos, especialmente veterinários. Aliás, aconselho vivamente que sempre procure a ajuda de um veterinário se notar alguma alteração nos seus amigos felinos, e nunca desista de procurar esta ajuda especializada.

Ainda tão pouco sabemos e a ciência está sempre em contínua mutação. A única coisa que nos resta é a nossa opção de vida!

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"A melhor forma de ajudar os animais é adotando-os."
(Rosária Gácio)