sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Do outro lado da porta, é seguro ou não!



(Continuação do artigo anterior: Para além da janela do nosso conforto)

Após cerca de um mês na casa nova, a Bia, o Jordan e a Diana Riscas foram percebendo, que havia um outro mundo para além das portas e janelas da nova casa onde moravam.

Depois de vários anos a viver num pequeno apartamento, eis que os seus olhinhos brilharam, ao verem que eu andava do outro lado da janela a cuidar dos vasos e das plantas no quintal.

Lembro-me que, por vezes, eles ficavam a olhar, petrificados, como é que eu estava do outro lado da janela e depois aparecia dentro de casa.

“Sim, existe qualquer coisa ali fora. Ainda não percebi muito bem como é, mas que a minha tutora vai lá muitas vezes, e se ela vai, é porque eu posso ir também, tenho é de perceber como, e se é seguro, e sempre ao lado dos meus tutores, é claro…” (Diário da Bia, agosto de 2018)


“Cada vez que a minha tutora vai lá fora, fico nervosa. Mio do outro lado da janela e fixo o meu olhar naquilo tudo que ali existe. Às vezes, bufo de medo, Sei lá o que ali vai!” (Diário da Diana Riscas, agosto de 2018).


“Sei que há muita coisa nova lá fora para explorar. Mas os meus tutores não me deixam ir lá fora. Por mim, já tinha ido lá ver o que se passa. Estou cansado de andar sempre aqui entre quatro paredes a ver mobiliário enquanto lá fora, os pássaros voam, as folhas se movem nas árvores… Enfim, se houver oportunidade, aproveito de certeza, e dou uma escapadela.” (Diário do Jordan, agosto de 2018).


E realmente, eu e meu marido tínhamos de ter imenso cuidado com o Jordan ao entrar em casa. Houve uma ocasião que ele se misturou nas nossas pernas, enquanto entrávamos em casa, e pronto. Lá estava ele finalmente no quintal a cheirar tudo. Fui buscá-lo a correr, com medo que fugisse. Aos poucos percebi que podia começar a ambienta-los ao espaço do quintal, mas só com um de cada vez.

No entanto, inicialmente só o Jordan teve realmente coragem de atravessar a porta. A Bia punha-se ao longe, e depois corria para a janela para apreciar melhor e com segurança. A Diana Riscas é que se escondia logo, mal a porta se abrisse.

À medida que eu ia com o Jordan lá fora dar um passeio, a Bia ia apreciando da janela, como que a verificar se era seguro aquilo tudo que eu andava a fazer lá fora com o Jordan.

Eu penso que a Bia sempre foi uma gata mais pensativa e cautelosa com as novidades. O jordan aventura-se logo com ambientes e pessoas novas, enquanto a Diana Riscas tem de ter o seu tempo para acreditar se é fiável ou não, aceitar as novas coisas que lhe são apresentadas.

E mais uma vez, diante da casa nova percebi o quanto cada gato é um gato, e que devemos estar atentos à sua personalidade para melhor ajuda-los. Todo e qualquer espaço novo oferece novas oportunidades aos nossos gatos, mas na maioria das vezes, os gatos não gostam de coisas novas ou de quebras de rotinas. 

E para além disso, numa casa com quintal, temos de estar atentos à vedação em torno da casa para eles não fugirem. E ter atenção ao contacto com outros gatos da vizinhança ou que estão na rua, se pode ocorrer ou não.

Outro pormenor é o contacto com a terra e vermes, pelo que eles tem de estar protegidos das infestações de pulgas, por exemplo.


Assim sendo, procurar perceber o ambiente que nos rodeia, acompanhando e percebendo o que eles nos estão a comunicar, para melhor os proteger e ajuda-los na sua readaptação, tem sido a minha forma de interagir com os meus gatos, nestes anos de convivência ao seu lado. 

Por isso vou começar a partilhar nesse artigo, um pouco do diário de cada um deles, pois os gatos falam-nos, e precisamos é estar atentos ao que eles nos comunicam. 


Assim como fiz no livro “Bia por um triz”, a partir deste artigo, para além da minha versão dos factos, também vou partilhar a versão felina de cada um dos meus gatos. E esta versão é baseada nas suas atitudes, pois eles falam connosco todos os dias, pela sua forma de agir, e como falam!

“Ah, era tão bom andar ali no quintal. Aquele ar, aquela terra e o infinito. Sim, corria pelas escadas, e lá ia eu a correr por entre aquilo tudo. Para ver melhor o que se passava na rua, esgueirava-me na grade do muro até o fundo… Pena que este muro é um pouco alto para pular, que a minha barriga não deixa. Ah, a minha tutora ralha-me comigo, cada vez que tento pular algumas coisas que até me dariam jeito alcançar, pois gosto é das alturas, para ver tudo o que passa à minha volta. Mas a minha tutora está atenta e tapou logo todos os buraquinhos que haviam aqui e acolá, porque a rede já é velha, e tem uns buracos pelo meio. Um dia, ela não percebeu e consegui ir para cima do beiral da garagem do lado de fora, e pus-me lá a apreciar o panorama da rua… Maravilha das maravilhas, lá no alto a ver tudo! Senti-me o dono da rua! O problema é que quando a minha tutora me viu ali, pôs-se aos berros, mas deixei-me estar mais um pouco. Estava tão bem! Só quando me deu a fome, é que voltei com calma pela beirada sem cair… A minha tutora agarrou-me logo e pôs-me dentro de casa. Disse-me que estava de castigo, e que hoje não ia mais ao quintal. Não sei porquê? O que é que eu fiz de errado? Só quis ver a rua pois sou o gato da casa e preciso controlar a vizinhança!" (Diário do Jordan, Agosto de 2018)


“Sei que pode-se andar do lado de fora da casa. O Jordan tem ido e volta vivo, por isso, não lhe deve fazer mal. Bem, a minha tutora abre-me a porta e diz-me que é a minha vez, mas fico com medo. Olho de longe ou da janela para perceber melhor se as coisas são realmente seguras.  Eu não quero voltar para rua. Isso de rua já me deu muitas tristezas como contei no meu livro “Bia por um triz”, e não quero ser novamente abandonada na rua. Nem pensar que quero me perder novamente da minha tutora!” (Diário da Bia, agosto de 2018)



“O Jordan tem saído todos os dias para o outro lado da porta. Mas eu mio e me escondo. Sei lá, o que ali vai. Desde pequenina que só conheço este mundo de quatro paredes. Primeiro estive na clínica veterinária que me salvou da morte e do abandono, e depois fui para os braços da minha tutora. Nem pensar que quero estar longe da minha tutora. A Bia e o jordan se quiserem ir, que vão! Deixem-me estar aqui no meu esconderijo do roupeiro dos meus tutores, que eu estou bem segura e isto é que importa!” (Diário da Diana Riscas, agosto de 2018)



Texto de Rosária Grácio
Autora do livro "Bia por um Triz"
(Continua no próximo artigo)



Se gostou deste artigo e para acompanhar os próximos artigos, convido-te a seguir este blogue e a página do livro "Bia por um triz" em 


Para saber mais sobre o livro "Bia por um triz", veja uma pequena apresentação do livro em:


 O livro "Bia por um Triz" pode ser adquirido em

"A melhor forma de ajudar os animais é adotando-os."
(Rosária Gácio)