quarta-feira, 12 de julho de 2017

O sofá preferido da Pantufa


(Continuação do artigo anterior)

Como dizia no meu artigo anterior, os gatos apegam-se às pessoas e por isso também se apegam às coisas que estas pessoas que eles amam, mais usam.

Penso que isso é a razão por quê eles arranham aquele sofá que mais é utilizado pelo seu humano preferido da casa. Ou então quando eles veêm qualquer coisa nova que é trazido para a casa, e por assim dizer, eles vão logo colocar a sua presença por meio de uma arranhadela ou apenas roçar-se, espalhando ali o seu cheiro.

A questão de pertença que os gatos assumem para eles próprios, é algo extraordinário que nunca imaginava que eles poderiam sentir. Longe deles estarem a achar que estão a estragar as coisas dos seus tutores. O que está em causa aqui é a tamanha fidelidade que eles têm por nós que se estende às coisas que usamos na casa e até nas roupas que vestimos.

E como cheguei a esta conclusão?

Infelizmente da pior maneira, pois vivi com a minha primeira gata Pantufa uma dessas experiências que nunca julguei que fosse possível.

Como tinha dito no artigo anterior, a minha gata Pantufa gostava muito do sofá que utilizávamos quando víamos televisão. Quando não estávamos em casa e mesmo se estava na cozinha, era ali no sofá da sala que a Pantufa e a Lady mais estavam. A Pantufa esticava-se toda, mostrando aquela barrigita preta tão amorosa com duas manchas de pelo branco.


No entanto, o sofá estava todo arranhado, quase a desmanchar-se todo. Resolvemos então comprar outro sofá e jogarmos aquele fora.

Por acaso, como era um sofá-cama, uma instituição interessou-se por leva-lo mesmo assim, já que a cama e o colchão ainda podiam ser utilizados.

E foi assim, que o sofá velho onde a Pantufa dormia foi levado da casa, e logo a seguir, um novo sofá veio para o mesmo lugar onde estava o outro.

Era um sofá novinho, de imitação de napa preto, que deixava muito mais bonita a sala de entrada da casa.

Porém, depois do sofá lá estar, eis que a Pantufa fez algo inimaginável: fez um cocó encima do sofá!

Ela nunca tinha feito qualquer das suas necessidades fora da caixinha da areia. Foi a primeira vez que tal aconteceu.

Eu e meu marido ficamos estupefatos com tal situação tão sem sentido.

Para nós, humanos, aquela ação foi algo que nunca poderia se esperar de um animal que já vivia connosco há cerca de dez anos.

A Pantufa já vivia há cerca de dez anos na nossa casa. Nunca, em momento algum, ela fez xixi ou cocó fora da caixinha da areia. Mesmo quando ainda era ainda tão pequenina, nunca vi em lado algum da casa, qualquer coisa dessa ou qualquer sujidade.


A Pantufa foi sempre uma gata extremamente asseada com o seu pelo. Aliás, o seu pelo negro brilhava ao sol de tão limpo que estava.

Porém, na altura não compreendi a mensagem da Pantufa. Não tinha conseguido compreender o que ela me queria dizer.

Zanguei-me e deixei de falar com ela. A Pantufa, quando não me via a olhar e a falar com ela, ficava mesmo magoada e triste. Foi assim que eduquei a Pantufa, e claro, passadas algumas horas, voltava a falar com ela, pois não aguentava ficar assim por muito tempo. Bastava fazer isso e ela percebia logo os seus limites.

No entanto, desta vez, isso não adiantou.

Depois do novo sofá vir para casa e o seu sofá ter ido embora, a Pantufa nunca mais voltou a ser a Pantufa de antes.


Todos os dias chegava a casa e sempre via, aqui e ali, xixi e cocó. No início, mostrava-me zangada e dizia-lhe que ali não se faz.

No entanto, os dias foram passando e todos os dias era surpreendida, especialmente com uma pocinha de xixi a meio da sala.

Levei-a ao veterinário e como a Pantufa continuava a alimentar-se bem e até mantinha o seu peso, disseram-me que era um problema comportamental.

Foi nessa altura que ouvi falar do tal apego que os gatos têm às coisas da casa onde moram, e por vezes, eles ficam ofendidos quando jogamos fora, certos móveis e roupas, onde se deitam ou estão mais tempo…

Isso parecia-me um absurdo, pois o que aquele sofá velho tinha de tão especial para a Pantufa?

Os dias foram passando e as coisas foram ficando cada vez piores.

Resolvi levar a Pantufa a outro veterinário e igualmente este disse-me o mesmo, e até aconselhou-me a separar a Pantufa num lado da casa até passar esta tal crise comportamental...

As poças de xixi foram aumentando. E então, ela começou também a fazer xixi na cama onde eu dormia. Por causa disso, acabei por aceitar o conselho do tal veterinário e acabei por colocar a Pantufa num canto da casa onde tivesse a areia, a água e a comida e assim mantivesse um pouco de higiene na casa.

Quando fiz isso, Lembro-me até hoje do olhar da Pantufa a fitar-me, um olhar profundo que me entrava pelo coração adentro… Não percebia toda aquela situação… Não percebia o por quê de ela estar a fazer aquilo após dez anos de convivência...


Sim, ela nunca deixou de comer, aliás mantinha tudo normal na companhia da sua amiga Lady. Como poderia deixar a minha gata a um canto da casa? Na altura não sabia das fraldas nem nada disso. Os veterinários onde levei a Pantufa nada me disseram acerca disso. Mas não consegui deixa-la ali a um canto da casa. 

Não aguentava ver a Pantufa sozinha e por isso deixava-a livre, colocando plásticos encima da cama e móveis para que ela não os sujasse com o xixi e o cocó. Foi a única maneira de a ter a andar de um lado para o outro e manter a casa com mais higiene.

Passaram-se alguns meses. Na altura estava a estudar à noite e a trabalhar de dia. Chegar a casa cansada, e ver que a Pantufa continuava a fazer xixi em vários lugares da casa, me deixava cada vez mais preocupada…


Foram meses de grande angústia …

Então comecei a tentar localizar outros veterinários no lugar onde eu morava. Até, lembro-me de pedir a um deles que viesse a casa para vê-la…

E então, eis que um dia cheguei a casa e encontrei a Pantufa na casa de banho, parada a um canto, sobre o chão frio e cheio de poças de xixi aqui e ali.

Não aguentei, agarrei nela, embrulhei-a num cobertor e coloquei-a numa transportadora.

Tinha ouvido falar de uma veterinária, ali perto onde eu trabalhava, e fui pela rua já quase noite, a chorar e quase a implorar a Deus que esta veterinária me ajudasse a saber o que a Pantufa tinha.

Não podia ser só um problema comportamental. Desta vez, quando vi a Pantufa na casa de banho, senti-a quase gelada… não podia ser só uma birra, tinha que haver qualquer outra coisa que estava a acontecer para além do tal problema comportamental …

(continua no próximo artigo)


quinta-feira, 6 de julho de 2017

Quando o gato não gosta de ir ao veterinário…





(Continuação do artigo anterior)

Ir ao veterinário pode ser muito estressante para alguns gatos, talvez, a maioria deles não goste muito da ideia de sair de casa e ir a um local completamente diferente da sua “zona de conforto” que é a sua casa.

As reações dos gatos são muito diversas. Eles tentam ao máximo salvaguardar as suas emoções e gostam de se sentir seguros.

Dos gatos que adotei, já vi várias reações. 


O Jordan até gosta de um passeio de vez em quando. Apesar de miar no início, depois até gosta de sentir o ventinho que entra pela transportadora.


Quanto à minha Diana Riscas, esta fica completamente estressada quando tem de sair de casa. É uma sessão continuada de miados, e quando chega ao veterinário e tem de aguardar a sua vez, vem também uma sessão de bufos.



Por sua vez, a Bia (Bia por um Triz) fica completamente amedrontada, miando sem parar, e se o medo for muito, até xixi na transportadora, acaba por fazer…

E falando na Pantufa, esta, então, tinha verdadeiro terror a sair de casa. Quando a levava, tinha de aproveitar um momento em que estivesse a dormir no seu cantinho à janela. 


Não podia trazer a transportadora com muito alarido. Se ela visse a transportadora, saía a correr e escondia-se.

Tinha de a colocar bem depressa na transportadora para ela não fazer muita resistência. A Pantufa tinha muita força nas patas, pelo que se ela percebesse que a colocava devagar na transportadora, usava as patas para não me deixar coloca-la lá dentro e fugia.

Para além disso, a Pantufa era uma gata grande e pesada. Leva-la ao veterinário era um verdadeiro exercício físico.

Mas tinha de o fazer. Não podemos retirar-lhes este momento para ver como está indo a sua saúde.

Ainda bem, que atualmente, já existem veterinários que vão a casa. Penso que certos gatos sofrem muito quando têm de sair de casa, nem que seja  para o veterinário.

No caso da Pantufa, quando chegava à casa, ainda havia o facto dela estranhar a sua companheira de anos, Lady e ficar a bufar-lhe ainda por alguns dias, como se nunca a lady estivesse naquela casa a viver com ela.


E isso acontecia também quando levava a Lady ao veterinário. Quando esta voltava, a Pantufa voltava a bufar-lhe como se ela fosse uma completa estranha.

Disseram-me que isso era por causa dos cheiros novos que a Lady ou a própria Pantufa trazia da rua e a confundiam.

Realmente, para quem adota gatos, toda esta situação, a princípio parece incompreensível.

Mas no mundo dos gatos, tudo tem o seu lugar e eles apegam-se a uma rotina e às coisas que fazem parte do seu ambiente.

Eles não querem nada mais além do que já têm.

A Pantufa ensinou-me muito, mesmo com todos este amuos e mudanças de comportamento. Ela gostava do seu espaço, mesmo pequeno e simples, era o seu com o qual vivia comigo.


Ela não precisava de mais nada. Sair para que?

A Pantufa veio-me pequenina às mãos. Graças a Deus, nunca conheceu a vida na rua. Ela sentia-se grata por cá estar na minha casa.

Quando nos sentimos bem num lugar, para quê sair dele?

Por vezes, as coisas mais lindas da vida são as mais simples e bastam a que temos.

No entanto, para nós humanos, quando uma coisa que já temos há muito tempo se estraga, jogamos fora e compramos outra para a substituir.

Eu pensava assim…

No entanto, a Pantufa ensinou-me que existem coisas que são sagradas para os gatos, como era o sofá onde ela, tantas vezes, dormia com a Lady.



(continua no próximo artigo)

terça-feira, 4 de julho de 2017

Convite especial da "BIA POR UM TRIZ" - Lançamento do Livro


Amigos e amigas da "BIA POR UM TRIZ", após estes meses em que eu e a editora estivemos a ultimar todos os pormenores para a edição deste maravilhoso livro, chegou a altura de fazer-vos um convite muito especial, pois a grande data do lançamento deste livro já está marcada.

No dia 26 de julho de 2017, pelas 18:30hs no Chiado Café Literário - Porto - Avenida da Boavista, 919 - Porto, será feito o lançamento do livro "BIA POR UM TRIZ" que vai contar com algumas surpresas, incluindo uma da própria Bia, a gata real, em cuja a história baseou-se este livro.


Para além disso, quem for à apresentação do livro, poderá também ver uma exposição das ilustrações feitas por Gráccio Caetano para este livro, que tiveram como modelo, a gata real Bia.



"BIA POR UM TRIZ conta a história de uma gata de rua que é dirigida a todas as pessoas, crianças e adultos, que com palavras simples irá sensibilizar, e quem sabe, também incentivar a adoção dos gatos de rua, especialmente os adultos como aconteceu com a minha Bia.

Siga-nos neste blogue e pelo facebook pois as surpresas com a apresentação do livro "BIA POR UM TRIZ" estão ainda a começar...

Por agora, deixo-vos, com muito carinho, este convite especial da "BIA POR UM TRIZ":





sexta-feira, 30 de junho de 2017

Será que a Pantufa aceita a sua nova amiga Lady na sua casa?



(Continuação do artigo anterior)

Como disse no artigo anterior, levar um novo gato para onde já existe outro, por vezes é um grande desafio.

No caso da Pantufa, esta alterou o seu comportamento de uma forma muito agressiva especialmente para comigo, quando trouxe uma nova gata para casa.

Não queria devolver a pequenina Lady, pelo que tive de aceitar uma inusitada sugestão dada por alguém que já tinha muitos gatos em casa. 

Deixei a Pantufa e a Lady sozinhas na sala e afastei-me, indo para o meu quarto.

Deixei-me estar no quarto e pus-me a escutar o que aconteceria. E então eis que os miados violentos da Pantufa, aos poucos, foram desaparecendo.

Lentamente fui abrindo a porta e até hoje lembro-me da cena que eu vi: a pequenina Lady de pé, em frente à Pantufa, enquanto esta colocava uma das suas patas sobre a cabeça da Lady.

Assim percebi, o quanto os gatos têm uma forma diferente de resolverem os seus conflitos.

Passado algum tempo, os bufos quase que desapareceram.

A Lady ia e vinha, enquanto que a Pantufa, segui-a com o olhar.


Por alguns dias, tentei evitar dar atenção às duas, mantendo-me até mais tempo fora de casa.

Aos poucos, a paz retornou e foi maravilhoso vê-las cada vez mais juntas.

A interação das duas foi tão maravilhosa que senti que a Pantufa deixou de estar tão ansiosa à minha espera como antes acontecia.

As duas estavam quase sempre juntas. Para comer, iam sempre juntas. E ao dormir, tenho uma foto que lhes tirei que agora partilho convosco:



Agora, ao lembrar de tudo o que aconteceu, percebo que a reação da Pantufa não foi de raiva.

Como disse nos artigos anteriores, nem sempre conseguimos compreender as reações dos gatos se as equipararmos às perceções humanas.

Nestes anos de convivência com os meus gatos, percebo que na maioria das vezes, julgamos mal os seus comportamentos.

E mesmo que convivamos com eles muito tempo, estaremos sempre muito longe de os conhecer por inteiro.

No entanto, ouso explicar um pouco do comportamento que a Pantufa teve ao ver uma nova gata em casa.

A Pantufa amava-me muito. O seu amor era tão intenso que não queria me repartir com ninguém. Outro gato em casa era um completo desrespeito ao amor que ela sentia por mim.

Penso que a Pantufa acabou por aceitar a Lady também por causa do amor que nutria por mim.

Eu mostrei-lhe que fiquei muito triste com ela por causa da sua agressividade comigo e com a Lady, deixando de falar com ela e não lhe fazendo festas.

Custou-me fazer isso, mas tinha de o fazer para mostrar-lhe que também a Lady precisava estar ali e que a casa dava para acolher as duas.


E depois a Lady tinha uma forma muito própria de apaziguar tudo à sua volta. Esse seu dom de fazer a paz e a concórdia revelou-se depois mais concretamente quando vieram outros gatos para a nossa casa.

Após os primeiros dias de muita inquietação, finalmente pude ir vendo que a Pantufa aceitou a Lady na sua companhia.

No entanto, o temperamento da Pantufa sempre foi muito complicado. Lembro-me que uma vez resolvi colocar uma coleira em cada uma delas. Como a Lady, era a mais fácil de aceitar novidades, pus-lhe primeiro a coleira.

Quando a pantufa viu que lhe tinha colocado a coleira, foi uma guerra tal que a Lady teve de fugir dela para debaixo da cama.

Tive de tirar a coleira da Lady o mais depressa que pude para que a paz voltasse entre as duas.

Estas reações da Pantufa perante novas coisas e cheiros sempre acompanharam os anos que se seguiram, impedindo-me de trazer novos gatos para casa.

Aliás, até a ida ao veterinário tornava-se também uma grande dificuldade, porém esse assunto prefiro alongar-me melhor no meu próximo artigo em que falarei das idas da pantufa ao veterinário que se tornaram verdadeiras aventuras de terror.

(continua no próximo artigo)



terça-feira, 27 de junho de 2017

Quando a Lady veio para a minha casa…




(Continuação do artigo anterior)

Quando fomos buscar a Lady, ela ainda era tão pequenina que cabia na palma de minha mão. Vimos um anúncio na net em que alguém estava a dar gatinhos e marcamos um encontro para os ver. Coincidência é que tal encontro foi exatamente muito perto de onde meu marido viveu quase vinte e cinco anos, isto é, junto à Torre dos Clérigos no Porto.

E então, lá veio um jovem rapaz com três gatinhos tão lindos quanto pequeninos nas mãos… Como queríamos uma gatinha, podíamos escolher de duas que lá estavam…

Os olhos de uma das gatinhas eram de um azul muito intenso e quase que de imediato nos apaixonamos por aquele floco de neve com manchinhas castanhas de vários tons…

A Lady era uma gata de raça siamesa. Quando foi para as minhas mãos, ela ficou logo muito encolhidinha e assim a levamos até a nossa casa.

Estava bastante entusiasmada em também dar à Pantufa, uma companheira com a qual pudesse brincar, já que ela ficava muito tempo sozinha em casa.


Quando chegamos, fiz exatamente o que tinha feito à Pantufa. Mostrei à Lady onde era a areia para fazer o xixi e o cocó, bem como o lugar da comida e da água.

A Pantufa, mal nos viu chegar, fugiu e escondeu-se. Mas isso era o normal que fazia quando eu chegava com o Paulo em casa.

Porém, quando a Pantufa sentiu que havia um outro gato em casa, começou a bufar e a fazer miados violentos.

Lembro-me que ela me rosnou e tentou até se atirar a mim.
Fiquei completamente assustada com aquela reação da Pantufa.

A Pantufa nunca me arranhou e o seu olhar era sempre tão terno para mim, que toda aquela mudança de comportamento realmente parecia que ela estava possuída, de tão violenta que ficou, especialmente para comigo…

O Paulo disse-me que isso era normal pois os gatos estranham-se muito nos primeiros dias. Para além disso, era preciso ver se a Pantufa aceitava a Lady pois havia gatos que não gostam de partilhar a sua casa com outros gatos.

Isso doía-me o coração pois já estava a amar a Lady.

Como a Pantufa estava um pouco violenta nas suas reações, temi que fizesse algum mal à Lady.


No início, fiquei com um bocado de medo pois eu tentava defender a minha pequena e indefesa Lady da outra gata Pantufa. Mas parecia que quanto mais defendia a Lady mais a Pantufa se tornava violenta.

A minha casa parecia um campo de batalha gatal.

Eu não sabia o que fazer!

Então, liguei a várias pessoas que pertenciam a associações de animais para que me dessem opiniões do que deveria fazer naquela situação.

No meio dos miados e dos bufos violentos da Pantufa, finalmente alguém me deu um conselho um bocado insólito:

- Não se preocupe. O melhor é deixar as duas sozinhas e afaste-se de perto delas. Se elas não a verem, melhor. Quanto mais a separar uma da outra, pior. É preciso que as duas se conheçam… Faça isso pois eu tenho muitos gatos e é assim que faço quando trago um novo a casa…

Quando ouvi aquilo, a princípio, parecia-me um absurdo…

Como poderia deixar aquele ser tão indefeso e pequenino diante de uma gata de mais de um ano, com o triplo do tamanho?

E para além disso se a Pantufa se virou a mim, então o que não fará com a Lady?

Meu coração estava titubeante diante do que deveria fazer. No entanto, eu teria que deixar a Lady sozinha com a Pantufa no outro dia porque iria trabalhar…

E então, pensei um pouco… Deixei a Lady na sala onde estava a Pantufa e fui para o quarto e fechei a porta… Tinha que tentar ver se resultava… Se ouvisse qualquer miado da pequenina mais aflito, abria a porta e iria logo socorre-la…

(continua no próximo artigo)



sexta-feira, 23 de junho de 2017

A "paixão" da Pantufa por mim...


(Continuação do artigo anterior)

A Pantufa, aos poucos, foi-se acomodando à sua nova casa. 

Na altura eu tinha uma vida muito agitada. Estávamos no ano de 2004, em que eu trabalhava durante o dia e à noite estudava. 

A Pantufa passava a maior parte do tempo sozinha em casa.

À noite, quando eu chegava, éramos apenas nós as duas. Aos fins de semana, o meu namorado vinha-me visitar, porém, ela quando o via, fugia dele e mantinha-se à distância.

Naquela altura não compreendia muito bem a sua atitude para com o meu namorado. Como pensava que os gatos eram independentes, julguei que esta sua forma de agir era o usual nos gatos e por isso deixei-a à vontade. 

Aos poucos, fui aprendendo com a Pantufa, a conhecer melhor os gatos, nas suas características únicas, ainda mais, tendo em consideração o que posteriormente vivi com a adoção de outros gatos.

Notei que, na maioria das vezes, os gatos quando são adotados, escolhem um dono. Geralmente apegam-se a quem os trouxe para casa. 

E com o passar do tempo, percebe-se que o gato que te ama muito também deseja de ti a mesma exclusividade …

Atualmente, uma das gatas que tenho em casa, a Diana Riscas, tem tamanha dedicação a mim que para além de não se deixar agarrar pelo meu marido, tem igualmente enorme ciúme quando me ponho a fazer festas aos outros gatos que tenho em casa.


Por sua vez, a minha outra gata, a Bia (Bia por um Triz), tem uma dedicação apaixonante ao meu marido que apesar não ser tão obsessiva como o é a de Diana Riscas por mim, é notória a sua escolha em algumas situações. Por exemplo, quando o meu marido está a lhe fazer festas, e eu achego-me, ela rejeita-me um pouco, afastando-me com as patitas e até dando-me leves mordidelas. 


Claro, que estas atitudes são complicadas de racionalizar tendo em conta a nossa perspetiva humana.

Porém, no mundo dos gatos, a fidelidade e o respeito transforma-se numa verdadeira “paixão” pelos seus donos.

“Paixão” é o nome que dou a esta forma dos gatos nos amarem sem limites. 

E a Pantufa amava-me tanto, que julgo que ela não compreendia porque haveria de eu ter lá em casa o meu namorado Paulo.

Para a Pantufa, bastava estarmos eu e ela. Mesmo que eu estivesse todo o dia ocupada a trabalhar e mesmo à noite a estudar, chegando tarde a casa; estar só comigo, bastava à Pantufa.  

Por sua vez, a Pantufa tinha o seu cantinho no sofá onde se deitava à tarde. Ao fim do dia punha-se à janela; e entre o comer e o dormir, mantinha-se sempre calma a acompanhar-me com os seus olhitos brilhantes quando eu estava em casa.


Todos e quaisquer estranhos, amigos, familiares ou vizinhos, que entravam em minha casa, eram motivos para que a Pantufa desaparecesse por algum tempo. Geralmente, ela deixava-se estar debaixo da cama e aguardava que novamente eu ficasse sozinha em casa.

A vinda regular do Paulo à casa trouxe uma alteração na rotina da Pantufa. Com o passar do tempo, ela já se mostrava um pouco mais, porém mantinha-se à distância e festas dele, nem pensar.

Durante os vários anos de convivência, mesmo após casar-me com o Paulo  e este tornar-se uma pessoa da casa, nada disso alterou a nítida distância que a Pantufa fazia questão de manter entre os dois.

Claro que o Paulo tentava se aproximar da Pantufa, mas esta fugia, por vezes dando-lhe bufos e logo escondia-se depressa para evitar qualquer contacto mais próximo.

Posso dizer até, que por vezes, sentia que a Pantufa se afastava igualmente de mim, quando eu estava ao lado do Paulo.


Pode ser complicado explicar tudo isso para quem não viveu ainda uma experiência destas, mas posso dizer que o passar dos anos foram confirmando esta minha opinião acerca da Pantufa.

Contudo, mesmo que esta “paixão” dos gatos seja notória, isso não significa que eles não amem ou respeitem os demais humanos com os quais convivem na casa onde foram acolhidos.

Baseada nos acontecimentos posteriores da história da Pantufa nas nossas vidas, que depois irei relatar em outros artigos, também me provaram que a Pantufa amava o Paulo, mesmo não tendo ela demonstrado qualquer afeto por ele durante quase toda a sua vida connosco.

A Pantufa foi a minha primeira gata e ela ensinou-me muito do que é o amor de um gato. 

O amor de um gato pode até ser silencioso e passar quase despercebido, mas é real.

Porém, um amor de um gato não nos é totalmente compreensível, e por vezes, apenas a convivência o demonstra. 

Eu julgava que a Pantufa sentia solidão por viver sozinha comigo no apartamento, e por isso, eu e o meu ainda namorado Paulo resolvemos adotar uma outra gata, a Lady…

No próximo artigo irei relatar este momento que foi muito significante para a Pantufa e para nós, muito além do que inicialmente imaginei…


(continua no próximo artigo)