(Continuação do artigo anterior)
A Pantufa, aos poucos, foi-se acomodando à sua nova casa.
Na altura
eu tinha uma vida muito agitada. Estávamos no ano de 2004, em que eu trabalhava
durante o dia e à noite estudava.
A
Pantufa passava a maior parte do tempo sozinha em casa.
À noite, quando eu chegava, éramos apenas nós as duas. Aos fins de semana, o meu namorado vinha-me visitar, porém, ela quando o via, fugia dele e mantinha-se à distância.
À noite, quando eu chegava, éramos apenas nós as duas. Aos fins de semana, o meu namorado vinha-me visitar, porém, ela quando o via, fugia dele e mantinha-se à distância.
Naquela altura não compreendia muito bem a sua atitude para com o meu namorado. Como
pensava que os gatos eram independentes, julguei que esta sua forma de agir era
o usual nos gatos e por isso deixei-a à vontade.
Aos poucos, fui aprendendo com a Pantufa, a conhecer melhor os gatos, nas suas características únicas, ainda mais, tendo em consideração o que posteriormente vivi com a adoção de outros gatos.
Notei que, na maioria das vezes, os gatos quando são adotados, escolhem
um dono. Geralmente apegam-se a quem os trouxe para casa.
E com o passar do
tempo, percebe-se que o gato que te ama muito também deseja de ti a mesma exclusividade
…
Atualmente, uma das gatas que tenho em casa, a Diana Riscas, tem
tamanha dedicação a mim que para além de não se deixar agarrar pelo meu marido,
tem igualmente enorme ciúme quando me ponho a fazer festas aos outros gatos que
tenho em casa.
Por sua vez, a minha outra gata, a Bia (Bia por um Triz), tem uma dedicação
apaixonante ao meu marido que apesar não ser tão obsessiva como o é a de Diana
Riscas por mim, é notória a sua escolha em algumas situações. Por exemplo,
quando o meu marido está a lhe fazer festas, e eu achego-me, ela rejeita-me um
pouco, afastando-me com as patitas e até dando-me leves mordidelas.
Claro, que estas atitudes são complicadas
de racionalizar tendo em conta a nossa perspetiva humana.
Porém, no mundo dos gatos, a fidelidade e o respeito
transforma-se numa verdadeira “paixão” pelos seus donos.
“Paixão” é o nome que dou a esta forma dos gatos nos
amarem sem limites.
E a Pantufa amava-me tanto, que julgo que ela não compreendia porque
haveria de eu ter lá em casa o meu namorado Paulo.
Para a Pantufa, bastava estarmos eu e ela. Mesmo que eu
estivesse todo o dia ocupada a trabalhar e mesmo à noite a estudar, chegando
tarde a casa; estar só comigo, bastava à Pantufa.
Por sua vez, a Pantufa tinha o seu cantinho no sofá onde se
deitava à tarde. Ao fim do dia punha-se à janela; e entre o comer e o dormir, mantinha-se
sempre calma a acompanhar-me com os seus olhitos brilhantes quando
eu estava em casa.
Todos e quaisquer estranhos, amigos, familiares ou vizinhos, que entravam em minha casa, eram motivos para que a Pantufa desaparecesse por algum tempo. Geralmente, ela
deixava-se estar debaixo da cama e aguardava que novamente eu ficasse sozinha em casa.
A vinda regular do Paulo à casa trouxe uma alteração na
rotina da Pantufa. Com o passar do tempo, ela já se mostrava um pouco mais,
porém mantinha-se à distância e festas dele, nem pensar.
Durante os vários anos de convivência, mesmo após casar-me com
o Paulo e este tornar-se uma pessoa da
casa, nada disso alterou a nítida distância que a Pantufa fazia questão de manter entre os dois.
Claro que o Paulo tentava se aproximar da Pantufa, mas esta fugia, por vezes dando-lhe bufos e logo escondia-se depressa para evitar qualquer contacto mais próximo.
Posso dizer até, que por vezes, sentia que a Pantufa se
afastava igualmente de mim, quando eu estava ao lado do Paulo.
Pode ser complicado explicar tudo isso para quem não viveu
ainda uma experiência destas, mas posso dizer que o passar dos anos foram
confirmando esta minha opinião acerca da Pantufa.
Contudo, mesmo que esta “paixão” dos gatos seja notória,
isso não significa que eles não amem ou respeitem os demais humanos com os
quais convivem na casa onde foram acolhidos.
Baseada nos acontecimentos posteriores da história da Pantufa nas nossas vidas, que depois irei relatar em outros artigos, também me provaram que a Pantufa amava o Paulo, mesmo
não tendo ela demonstrado qualquer afeto por ele durante quase toda a sua vida connosco.
A Pantufa foi a minha primeira gata e ela ensinou-me muito
do que é o amor de um gato.
O amor de um gato pode até ser silencioso e passar quase despercebido, mas é real.
O amor de um gato pode até ser silencioso e passar quase despercebido, mas é real.
Porém, um amor de um gato não nos é totalmente
compreensível, e por vezes, apenas a convivência o demonstra.
Eu julgava que a
Pantufa sentia solidão por viver sozinha comigo no apartamento, e por isso, eu
e o meu ainda namorado Paulo resolvemos adotar uma outra gata, a Lady…
No próximo artigo irei relatar este momento que foi muito
significante para a Pantufa e para nós, muito além do que inicialmente imaginei…
(continua no próximo artigo)