sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

E o Natal nos trouxe a Mariana



Nesta semana, a Mariana encontrou-nos. Ela estava na rua, e foi meu marido que a viu a miar, e por pouco não foi atropelada por um carro, porque mandamos pará-lo, a tempo da Mariana fugir para debaixo de outro carro que estava parado. Ainda fui atrás da Mariana, mas ela fugiu para dentro de uma vedação de uma das casas da rua, e julguei que ela vivia ali e tinha-se escapado.

No outro dia, enquanto cuidava do jardim da minha casa, escutei novamente uns miados. Meus gatos estavam comigo e com as orelhas em pé, indicavam-me de onde vinha os miados. Agarrei numa toalha, e lá fui eu pela rua fora. 

Não sabia se era a Mariana ou se era outro gato qualquer pequenino. E lá estava a Mariana, no meio da rua, magríssima, com focinho arranhado e olhos remelados. Desta vez, aproximei-me mais devagar… Ela ainda correu para a frente de uma porta, mas não entrou… Já não tinha forças… Pareceu-me dizer: - já não posso mais!

E embrulhei-a na toalha que trazia e trouxe-a. Tremia de frio e mal se via os seus olhos de tão infecionados. Pelo seu corpo pequenino e magríssimo, julgava que ela tinha um mês, talvez dois meses.

Meus gatos olhavam-me assustados pelo que trazia no meu colo. A minha Diana bufou logo porque esta minha gata é muito ciumenta.


Eu sei que trazer um novo gato para uma casa onde existem outros gatos não é tarefa fácil. Só há cerca de uns dois meses é que meus gatos voltaram a dar-se bem depois de quase um ano de alterações de comportamento devido à doença da Bia.

Sei que colocar um novo gato também implica riscos de saúde para os da casa, se não souber realmente as condições de saúde do novo gato. Existem muitas doenças que são transmissíveis, e os gatos na rua ficam sujeitos a todo o tipo de vírus, devido às suas condições precárias de alimentação, sujeitando-se às mudanças climáticas, especialmente nesta altura de forte inverno.

Sei que há quem pense que um gato na rua se "dá bem", mas a realidade é que nem todos os gatos se dão tão bem assim. Especialmente os gatos mais dóceis, os que tinham tudo para serem os melhores companheiros de  toda uma vida na casa de alguém são estes os que morrem mais depressa na rua, porque simplesmente são dóceis, e não são capazes de se defender dos gatos mais selvagens.

Mas a Mariana ali no meu colo, já sem forças abria os seus olhinhos remelentos e baixinho miava, já ronronando, sem ainda me conhecer. A Mariana confiou-se a mim e deixou-se estar no meu colo ali quase quieta, como se me dissesse: - Já estou sem forças, já não aguento mais, confio em ti!

Arranjei uma caixa transportadora onde coloquei a Mariana. Meti lá um cobertor quente, água, comida e uma pequena caixa de areia. Coloquei a caixa transportadora com a Mariana no meu atelier de pintura que é um anexo que tenho junto à minha nova casa. Este anexo tem um telhado novo e praticamente ali é o mesmo ambiente da minha casa.


Não tinha comida para um gato júnior, e por isso, lembrei-me de lhe dar uma lata de atum natural que por vezes dou ao meu gato.

A Mariana logo que viu o atum comeu rapidamente. Estava esfomeada.  Enchi por duas vezes a tigela e comeu tudo, ronronando sempre, esticando-me a pata, quase que a dizer-me: - Obrigada!

Já comprei comida própria para gatos juniores. Desfiei-lhe um franguinho, sem ossos, e dei-lhe, e ela gostou imenso. Lambeu aquela aguinha de cozer o frango que meus gatos também gostam tanto.

Liguei de imediato à veterinária dos meus gatos! Sabia que a Mariana estava doente e precisava agora ser vista por um veterinário o mais depressa possível. 

Felizmente a minha nova veterinária vem ao domicílio. Quando eu disse que a Mariana tinha comido, foi um bom sinal. Disse-me que devia manter a Mariana quentinha pelo que me pediu para que colocasse uma botija de água quente na transportadora para ela se sentir quentinha e manter a sua temperatura corporal. Mas a botija tem de ser colocada envolta em um pano senão os gatos pequeninos de tanto quererem o calor, acabam por se queimar quando colocamos uma botija sem proteção. Se um gato pequenino tiver muito frio, isso pode agravar-lhe as doenças que eventualmente já tiver. E assim fiz. Durante o dia mudo por três ou quatro vezes a botija para ela se manter quentinha.


No outro dia, a veterinária pode vir vê-la, e agradeço-lhe do fundo do coração de ter tido esta disponibilidade quase que imediata para vir ver a Mariana, mesmo diante da sua agenda cheia de compromissos e marcações. 

A Mariana tem uma infeção nas vias respiratórias, mas não tinha febre, o que é um bom sinal. Como está a comer e a beber e  a fazer as suas necessidades com regularidade, pensa-se que é apenas isso que ela tem, até fazer-se exames. E assim já está medicada com antibiótico e gotas para tratar os olhos que parecem também estarem infecionados. 

Também os seus ouvidos precisam ser limpos e desinfetados.


A Mariana pesa cerca de um quilo. Pelos seus dentes, avalia-se que a Mariana já tem mais de três meses, talvez já quatro meses. Infelizmente, a Mariana deve ter passado muita fome nos seus primeiros meses de vida, e por isso, o seu corpinho pequeno e frágil não pode crescer como deveria ser. Assim sendo, além da medicação, também tem de tomar uma pasta com vitaminas para dar-lhe mais forças.

A Mariana é uma prova viva do quanto é cruel colocar-se gatos na rua, julgando-se que eles sabem se defender por si mesmos, especialmente quando ainda são pequeninos.

Eu não sei porque a Mariana foi parar na rua, nem sei se ela veio de uma ninhada de gatos de rua, ou se foi de uma ninhada de gatos de casa não castrados, que não puderam ser adotados e acolhidos na mesma casa.

Aqui eu não condeno ninguém. 

Infelizmente a vida nem sempre é fácil para todos, fazem-se opções, e por vezes, é complicado acolher-se um gato em casa, já que ainda há tantos mitos em torno dos gatos, especialmente se são encontrados na rua.

Eu também acreditava em alguns destes mitos, e nestes últimos tempos tenho aprendido tanto com os gatos com os quais partilho a minha vida. Ainda hoje, estava meia adoentada com gripe e queria ficar na cama, mas meus gatos fizeram-me levantar, reagir pois não nos podemos deixar abater. Para quem ainda não leu, deixo aqui o meu pequeno e-book onde partilho um pouco do que os gatos representaram na minha readaptação como deficiente visual.


Às vezes, precisamos apenas não desistir ou apenas acreditar que é possível!

Não sei quanto tempo a Mariana esteve na rua, nem sei por onde ela andou antes de me encontrar. O que eu sei é que a Mariana estava exausta, esfomeada, desnutrida e quase sem forças no meio da rua em pleno inverno rigoroso e muito chuvoso.

Neste Natal e em todos os dias do ano, existem muitas Marianas que ainda andam nas ruas, esfomeadas, desnutridas, sem forças, abandonadas à sua própria sorte.

Na verdade, estas Marianas que andam pelas ruas, são companheiros em potencial que poderiam encher de alegria uma casa, que poderiam ser amigos fiéis de toda uma vida de alguém.


Na nossa  vida, só quando a partilhamos com alguém, um animal ou uma simples planta é que podemos dizer: - Fomos importantes para alguém, passamos por esta vida e mudamos algo, salvamos um animal da rua, acabamos com a dor de alguém, estendo-lhe a mão, acolhendo o outro na sua diferença, na sua fragilidade, pois hoje, temos esta oportunidade de sermos esta luz do Natal na vida que nos cerca.

O Natal, na sua essência, não são as luzes, as prendas e as festas. 

O natal, para os crentes, começou nesta história belíssima de um Deus que se fez menino frágil que escolheu nascer numa manjedoura onde estavam os animais, pois não havia um lugar de conforto nas hospedarias para acolhê-lo. Foi ali na fragilidade de uma gruta ou estábulo que o Natal começou. E só quando revivemos este Natal na sua simplicidade de quem necessita de ajuda, desta humildade em mudar a partir dos pequenos gestos que salvam a vida de quem e do que nos cerca, é que vale a pena viver o Natal!

Não conto esta história para me vangloriar, pois ainda hesitei em contar a história da Mariana. Tenho já três gatos e não sei se eles vão acolher a Mariana para ela ser da nossa família. O que importa agora, é cuidar da Mariana, salva-la, pois ela também merece esta oportunidade de viver e ser feliz na casa de alguém, protegida e cuidada por um tutor que a ame para sempre.


Neste blogue, quando partilho a minha história de vida com os meus gatos, é antes de mais para mudar mentalidades, especialmente as baseadas em tantos mitos, pois é preciso contar a verdadeira história dos gatos. 

Foi por isso que escrevi o livro "Bia por um triz" e continuo a escrever aqui e nas redes sociais sobre o que vivo com os meus gatos todos os dias.

O que me interessa é dizer que um gato, quando ama, ama para sempre! E Mariana provou-me que é possível este amor, mesmo que venha quando não estávamos à espera.

Feliz Natal e beijos da Bia, Jordan, Diana Riscas e da Mariana, com muitos ronrons.


(Texto de autoria de Rosária Grácio)

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"A melhor forma de ajudar os animais é adotando-os."
(Rosária Gácio)