Nesta semana, a Mariana encontrou-nos. Ela estava na rua, e foi meu marido que a viu a miar, e por pouco não foi atropelada por um carro, porque mandamos pará-lo, a tempo da Mariana fugir para debaixo de outro carro que estava parado. Ainda fui atrás da Mariana, mas ela fugiu para dentro de uma vedação de uma das casas da rua, e julguei que ela vivia ali e tinha-se escapado.
No outro dia, enquanto cuidava do jardim da minha casa,
escutei novamente uns miados. Meus gatos estavam comigo e com as orelhas em pé,
indicavam-me de onde vinha os miados. Agarrei numa toalha, e lá fui eu pela rua
fora.
Não sabia se era a Mariana ou se era outro gato qualquer pequenino. E lá
estava a Mariana, no meio da rua, magríssima, com focinho arranhado e olhos
remelados. Desta vez, aproximei-me mais devagar… Ela ainda correu para a frente
de uma porta, mas não entrou… Já não tinha forças… Pareceu-me dizer: - já não
posso mais!
E embrulhei-a na toalha que trazia e trouxe-a. Tremia de
frio e mal se via os seus olhos de tão infecionados. Pelo seu corpo pequenino e
magríssimo, julgava que ela tinha um mês, talvez dois meses.
Meus gatos olhavam-me assustados pelo que trazia no meu colo.
A minha Diana bufou logo porque esta minha gata é muito ciumenta.
Eu sei que
trazer um novo gato para uma casa onde existem outros gatos não é tarefa fácil.
Só há cerca de uns dois meses é que meus gatos voltaram a dar-se bem depois de
quase um ano de alterações de comportamento devido à doença da Bia.
Sei que colocar um novo gato também implica riscos de saúde
para os da casa, se não souber realmente as condições de saúde do novo gato.
Existem muitas doenças que são transmissíveis, e os gatos na rua ficam sujeitos
a todo o tipo de vírus, devido às suas condições precárias de alimentação,
sujeitando-se às mudanças climáticas, especialmente nesta altura de forte
inverno.
Sei que há quem pense que um gato na rua se "dá bem", mas a realidade é
que nem todos os gatos se dão tão bem assim. Especialmente os gatos mais dóceis, os
que tinham tudo para serem os melhores companheiros de toda uma vida na casa de alguém são estes os que
morrem mais depressa na rua, porque simplesmente são dóceis, e não são capazes
de se defender dos gatos mais selvagens.
Mas a Mariana ali no meu colo, já sem forças abria os seus
olhinhos remelentos e baixinho miava, já ronronando, sem ainda me conhecer. A Mariana
confiou-se a mim e deixou-se estar no meu colo ali quase quieta, como se me
dissesse: - Já estou sem forças, já não aguento mais, confio em ti!
Arranjei uma caixa transportadora onde coloquei a Mariana.
Meti lá um cobertor quente, água, comida e uma pequena caixa de areia. Coloquei
a caixa transportadora com a Mariana no meu atelier de pintura que é um anexo
que tenho junto à minha nova casa. Este anexo tem um telhado novo e
praticamente ali é o mesmo ambiente da minha casa.
Não tinha comida para um gato júnior, e por isso, lembrei-me
de lhe dar uma lata de atum natural que por vezes dou ao meu gato.
A Mariana logo que viu o atum comeu rapidamente. Estava
esfomeada. Enchi por duas vezes a tigela
e comeu tudo, ronronando sempre, esticando-me a pata, quase que a dizer-me: -
Obrigada!
Já comprei comida própria para gatos juniores. Desfiei-lhe
um franguinho, sem ossos, e dei-lhe, e ela gostou imenso. Lambeu aquela aguinha
de cozer o frango que meus gatos também gostam tanto.
Liguei de imediato à veterinária dos meus gatos! Sabia que a
Mariana estava doente e precisava agora ser vista por um veterinário o mais depressa
possível.
Felizmente a minha nova veterinária vem ao domicílio. Quando eu disse
que a Mariana tinha comido, foi um bom sinal. Disse-me que devia manter a
Mariana quentinha pelo que me pediu para que colocasse uma botija de água quente
na transportadora para ela se sentir quentinha e manter a sua temperatura corporal.
Mas a botija tem de ser colocada envolta em um pano senão os gatos pequeninos
de tanto quererem o calor, acabam por se queimar quando colocamos uma botija
sem proteção. Se um gato pequenino tiver muito frio, isso pode agravar-lhe as
doenças que eventualmente já tiver. E assim fiz. Durante o dia mudo por três ou
quatro vezes a botija para ela se manter quentinha.
No outro dia, a veterinária pode vir vê-la, e agradeço-lhe
do fundo do coração de ter tido esta disponibilidade quase que imediata para
vir ver a Mariana, mesmo diante da sua agenda cheia de compromissos e
marcações.
A Mariana tem uma infeção nas vias respiratórias, mas não tinha
febre, o que é um bom sinal. Como está a comer e a beber e a fazer as suas
necessidades com regularidade, pensa-se que é apenas isso que ela tem, até fazer-se exames. E assim
já está medicada com antibiótico e gotas para tratar os olhos que parecem
também estarem infecionados.
Também os seus ouvidos precisam ser limpos e desinfetados.
A Mariana pesa cerca de um quilo. Pelos seus dentes, avalia-se
que a Mariana já tem mais de três meses, talvez já quatro meses. Infelizmente,
a Mariana deve ter passado muita fome nos seus primeiros meses de vida, e por
isso, o seu corpinho pequeno e frágil não pode crescer como deveria ser. Assim
sendo, além da medicação, também tem de tomar uma pasta com vitaminas para
dar-lhe mais forças.
A Mariana é uma prova viva do quanto é cruel colocar-se
gatos na rua, julgando-se que eles sabem se defender por si mesmos, especialmente
quando ainda são pequeninos.
Eu não sei porque a Mariana foi parar na rua, nem sei se ela
veio de uma ninhada de gatos de rua, ou se foi de uma ninhada de gatos de casa não
castrados, que não puderam ser adotados e acolhidos na mesma casa.
Aqui eu não condeno ninguém.
Infelizmente a vida nem sempre
é fácil para todos, fazem-se opções, e por vezes, é complicado acolher-se um
gato em casa, já que ainda há tantos mitos em torno dos gatos, especialmente se
são encontrados na rua.
Eu também acreditava em alguns destes mitos, e nestes
últimos tempos tenho aprendido tanto com os gatos com os quais partilho a minha vida. Ainda hoje, estava meia adoentada
com gripe e queria ficar na cama, mas meus gatos fizeram-me levantar, reagir
pois não nos podemos deixar abater. Para quem ainda não leu, deixo aqui o meu pequeno e-book onde partilho um pouco do que os gatos representaram na minha
readaptação como deficiente visual.
Às vezes, precisamos apenas não desistir ou apenas acreditar
que é possível!
Não sei quanto tempo a Mariana esteve na rua, nem sei por onde ela andou antes de me encontrar. O que eu sei é que a Mariana estava exausta,
esfomeada, desnutrida e quase sem forças no meio da rua em pleno inverno rigoroso e muito chuvoso.
Neste Natal e em todos os dias do ano, existem muitas
Marianas que ainda andam nas ruas, esfomeadas, desnutridas, sem forças,
abandonadas à sua própria sorte.
Na verdade, estas Marianas que andam pelas ruas, são
companheiros em potencial que poderiam encher de alegria uma casa, que poderiam
ser amigos fiéis de toda uma vida de alguém.
Na nossa vida, só
quando a partilhamos com alguém, um animal ou uma simples planta é que podemos
dizer: - Fomos importantes para alguém, passamos por esta vida e mudamos algo, salvamos
um animal da rua, acabamos com a dor de alguém, estendo-lhe a mão, acolhendo o
outro na sua diferença, na sua fragilidade, pois hoje, temos esta oportunidade
de sermos esta luz do Natal na vida que nos cerca.
O Natal, na sua
essência, não são as luzes, as prendas e as festas.
O natal, para os crentes, começou nesta história belíssima de um Deus que se fez menino frágil
que escolheu nascer numa manjedoura onde estavam os animais, pois não havia um
lugar de conforto nas hospedarias para acolhê-lo. Foi ali na fragilidade de uma
gruta ou estábulo que o Natal começou. E só quando revivemos este Natal na sua simplicidade de quem necessita de ajuda, desta humildade em mudar a partir dos pequenos gestos que salvam a vida de quem e do que nos cerca, é que vale a pena
viver o Natal!
Não conto esta história para me vangloriar, pois ainda hesitei em contar a história da Mariana. Tenho já três gatos e não sei se eles vão acolher a Mariana para ela ser da nossa família. O que importa agora, é cuidar da Mariana, salva-la, pois ela também merece esta oportunidade de viver e ser feliz na casa de alguém, protegida e cuidada por um tutor que a ame para sempre.
Neste blogue, quando partilho a minha história de vida com os meus gatos, é antes de mais para mudar mentalidades, especialmente as baseadas em tantos mitos, pois é preciso contar a verdadeira história dos gatos.
Foi por isso que escrevi o livro "Bia por um triz" e continuo a escrever aqui e nas redes sociais sobre o que vivo com os meus gatos todos os dias.
O que me interessa é dizer que um gato, quando ama, ama para sempre! E Mariana provou-me que é possível este amor, mesmo que venha quando não estávamos à espera.
Feliz Natal e beijos da Bia, Jordan, Diana Riscas e da Mariana,
com muitos ronrons.
(Texto de autoria de Rosária Grácio)
Se gostou deste artigo e para acompanhar os próximos artigos, convido-lhe a seguir este blogue e a página do livro "Bia por um triz" em
Para saber mais sobre o livro "Bia por um triz", veja uma pequena apresentação do livro em:
"A melhor forma de ajudar os animais é adotando-os."(Rosária Gácio)
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