(Continuação do artigo anterior)
Estava com o coração ansioso…
A Pantufa não estava mesmo bem… Foi a primeira vez que ela
deixou-se levar para a caixa transportadora sem fazer qualquer reação…
Nunca, mas mesmo nunca, a Pantufa queria ser levada na caixa
transportadora. Mesmo nos últimos meses, quando a levei aos dois veterinários
para a consultar, ela tornou-se ainda mais difícil quando a tentava levar na
transportadora.
Mas desta vez, ela já tão fria, deixou-se meter na caixa. sem
dizer nada, só olhava para mim com aquele olhar de um amarelo lindo que só ela
tinha.
Quando cheguei à esta nova veterinária, percebi logo uma
diferença na clínica. Estavam cães e gatos soltos pela clínica que logo me
vieram cumprimentar…
Tive um bocado de receio, mas logo vi que aqueles companheiros
de quatro patas eram as boas-vindas para uma veterinária que gostava mesmo do
que fazia.
Já não me lembro se estava muita gente ou não… Pois como
disse no artigo anterior, estava mesmo com a dor muito forte em meu coração, quando vi a Pantufa, em casa, no chão frio, rodeada de xixi… Nunca a
vi em tal situação, ela que sempre se esmerava por estar sempre limpinha …
Então fui chamada para o consultório… E atendeu-me uma jovem
doutora e percebi logo um à vontade a lidar com a Pantufa… Disse-lhe o que
estava a acontecer nos últimos meses, e ela mediu-lhe a temperatura…
Percebi no olhar da veterinária que as coisas não estavam bem
para a minha querida Pantufa…
E sim, a Pantufa estava com uma insuficiência renal crónica…
os rins estavam a parar… então eis que a veterinária disse-me logo que ela
tinha de ser internada o mais rápido possível para ser operada…
A Pantufa estava mesmo quieta… nunca a vi assim tão calma…
como se as suas forças estavam mesmo no seu limite…
A Pantufa foi operada à hérnia porque o intestino estava
preso na hérnia e na bexiga, porém os rins, mesmo com a operação, não estavam a
funcionar… Por isso, ela teve de ficar internada …
Todos os dias ia visitar a Pantufa após o trabalho… Era
muito difícil ver ali a minha querida Pantufa, a olhar para mim, como que a
tentar comunicar-me uma mensagem que ainda não conseguia compreender…
Lembro-me, que quando ela me via, levantava-se logo e eu
ficava com esperança… Mas a veterinária olhava-me de uma forma mais pessimista…
E quando chegava a casa, lá estava a Lady, sozinha, a olhar
para mim… Ah, quanta tristeza… Eu bem lhe dizia que a sua companheira de tantos
anos estava doente, mas ela vai voltar, dizia-lhe, ela vai melhorar…
A Lady começou a fazer algo que nunca tinha feito comigo…
Com a Pantufa, ela tinha o costume de marchar encima da sua
barriga e depois, deixava-se estar encima dela…
Nunca compreendi muito bem porque ela fazia isso… mas, a
partir dessa altura, a Lady começou a fazer extamente o mesmo comigo… À noite,
quando já estava deitada, lá vinha ela para cima da minha barriga, marchar um
pouco e depois deixava-se estar encima de mim…
Percebia que a Lady estava com muitas saudades da Pantufa…
Percebia-se no seu olhar, quando chegava ao final do dia, e a via ali a olhar
com os seus olhos azuis a tentar perceber o por quê da Pantufa não voltar para casa…
E os dias foram passando e o estado clínico da Pantufa não
se alterava… Enquanto estava ali um
tempinho com a Pantufa, via outros gatos, alguns deles que estavam para
adoção… Um deles, estava na jaula bem abaixo da Pantufa, e chorava por mim,
quando eu ia embora, dizia a veterinária…
Mas naquela altura, longe de mim saber o que estava para
acontecer… Sabia bem que o temperamento da Pantufa não aceitaria outro gato em
casa… Já tinha tido grande dificuldade em esta aceitar a Lady…
Um dia disse ao meu marido para visitar a Pantufa… Só eu ia
à clínica porque o Paulo já tinha sofrido por morte de uma gata que estimava
muito e que sofreu por doença e para além disso, tinha receio de ir lá vê-la…
Como vos disse nos artigos anteriores, a Pantufa nunca
deixou o meu marido fazer-lhe festas. Aliás, quando estava junto do meu marido,
ela mantinha-se longe de nós… Nunca o meu marido conseguiu sequer se aproximar
da Pantufa. Ela não deixava e bufava-lhe, se ele se aproximasse dela.
Mas, passado alguns dias, a saudade bateu e então o meu
marido Paulo foi vê-la… Eu já estava na clínica e eis que estava a fazer festas
à Pantufa, quando ele entra na sala…
De imediato, a Pantufa pôs-se de pé… Meu marido ainda
hesitou … Mas então, ela deixou-se acariciar por ele …
Nunca o meu marido tinha conseguido tocar-lhe e ela roçou-se
nele como fazia comigo… Fez ainda um rom rom de contentamento… Meu marido
acariciou o seu corpinho todo e ele chorou de alegria…
E a Pantufa olhou-nos nos olhos … Fixadamente olhou-nos e
depois foi-se deitando novamente e então os seus olhitos foram olhando para um
horizonte longínquo… para o alto…
Meu marido disse logo em lágrimas:
- ela está a se despedir
de nós!
- Não, não, ela está a melhorar – disse-lhe.
Não queria acreditar nisso. Mas depois desse olhar, a
pantufa deitou-se como se estivesse satisfeita e em paz… Ainda lhe acariciei
com muito carinho…
Ela manteve-se deitada e não mais nos olhou… Parecia estar
com muito sono…
Eu e meu marido abraçamo-nos a chorar!
Mas eu repetia: - ela vai ficar boa!
Enquanto tudo isto acontecia, o meu marido viu, que do outro
lado da sala, estava uma gata preta e branca a olhar-nos, atrás de uma jaula… e
depois lentamente ela foi colocando a pata entre as grades a tentar tocar-nos…
Na altura, eu não via mais nada para além da minha querida
Pantufa…
Fomos para casa, e eu mantinha a esperança, pois não podemos
desistir nunca!
Porém, no outro dia, recebi a notícia que mais temia... Quando a veterinária
foi ver a Pantufa, logo de manhã cedo, ela já tinha falecido…
Mas, porquê? - perguntei à veterinária. Ela parecia estável, parecia que estava a melhorar... Ontem o meu marido veio visita-la, e ela nem gostava muito do meu marido, e até deixou-lhe fazer festas...
E a veterinária disse-me:
- Ela esperou pelo seu marido para se despedir dele também...
Nunca mais irei esquecer desta frase... Este foi o primeiro abanão que eu recebi pois ainda não conhecia a verdadeira personalidade os gatos...
Ali, no momento da sua despedida, a Pantufa me demonstrou que um gato ama, e ama muito, mesmo que não o demonstre, mesmo que não o queira demonstrar...
Nós, humanos, gostamos de racionalizar as coisas à nossa medida... Se um gato nos bufa, pensamos logo que ele nos está a rejeitar...
Como tenho referido nestes artigos, que não são apenas para entreter, é preciso contar a verdadeira história dos gatos para os conhecermos melhor...
Por isso, tenho partilhado neste blogue do que tenho vivido ao lado dos gatos que tenho adotado na minha vida.
E sim, a Pantufa amava o meu marido muito, mesmo sem o ter demonstrado até o dia da sua despedida...
Só depois de o ter visto, é que ela finalmente pôde ir em paz...
- Amar-te-ei até o fim! - esta foi a mensagem, que a Pantufa nos queria transmitir, quando se despediu de nós naquela noite, que foi a véspera da sua morte...
E como choramos esta perda... Era uma dor inconsolável... Nunca me tinha sentido assim...
Ao escrever este artigo, chorei por várias vezes, ao lembrar de como a Pantufa nos deixou... A perda de um animal que nos acompanhou durante tantos anos, só quem passou por isso, pode compreender a profundidade disto tudo.
Mas a culpa foi do sofá? Foi por causa do sofá preferido da Pantufa que ela ficou doente?
Ainda pensei que foi por causa disso, por algum tempo...
Mas, depois falando com a veterinária que ainda tentou salva-la, ela disse-me que não...
Poderia ter sido uma queda que a Pantufa teve, fazendo-lhe uma hérnia, que depois prendeu o intestino e a bexiga, parando-lhe os rins...
No entanto, as hérnias também podem ser de nascença. Como a Pantufa era gordinha, os veterinários que a viram antes, poderiam não ter notado a hérnia ao palpar. Por vezes, a hérnia é um buraco pequenino que não se nota e os gatos vivem, ainda bem, durante algum tempo, até que um orgão fica preso na hérnia, e então, começam os problemas.
Poderia ter sido uma queda que a Pantufa teve, fazendo-lhe uma hérnia, que depois prendeu o intestino e a bexiga, parando-lhe os rins...
No entanto, as hérnias também podem ser de nascença. Como a Pantufa era gordinha, os veterinários que a viram antes, poderiam não ter notado a hérnia ao palpar. Por vezes, a hérnia é um buraco pequenino que não se nota e os gatos vivem, ainda bem, durante algum tempo, até que um orgão fica preso na hérnia, e então, começam os problemas.
Foi uma coincidência toda aquela história do sofá que foi mudado, e toda aquela situação dos apegos às coisas que os gatos, por vezes, têm...
Realmente, por vezes, as coisas acontecem, e não vale mesmo a pena ficarmos a tentar explicar o por quê, antes, temos de nos focar no "para quê" tudo isso aconteceu...
Já me disseram que cada qual tem o seu livro de história e a morte tem sempre uma desculpa.
Agora restava-me a minha querida Lady que ficou sozinha em casa, e sem mais ver a Pantufa... Também eles, quando perdem um companheiro de vida, sofrem imenso...
Eu e meu marido começamos a ver um olhar muito triste na nossa querida Lady...
Não, não podemos perder também a nossa querida Lady!
(continua no próximo artigo)