(Continuação do artigo anterior)
Como disse no artigo anterior, levar um novo gato para onde
já existe outro, por vezes é um grande desafio.
No caso da Pantufa, esta alterou o seu comportamento de uma
forma muito agressiva especialmente para comigo, quando trouxe uma nova gata para casa.
Não queria devolver a pequenina Lady, pelo que tive de
aceitar uma inusitada sugestão dada por alguém que já tinha muitos gatos em
casa.
Deixei a Pantufa e a Lady sozinhas na sala e afastei-me, indo para o meu quarto.
Deixei-me estar no quarto e pus-me a escutar o que
aconteceria. E então eis que os miados violentos da Pantufa, aos poucos, foram
desaparecendo.
Lentamente fui abrindo a porta e até hoje lembro-me da cena
que eu vi: a pequenina Lady de pé, em frente à Pantufa, enquanto esta colocava uma das suas patas sobre a cabeça da Lady.
Assim percebi, o quanto os gatos têm uma forma diferente de
resolverem os seus conflitos.
Passado algum tempo, os bufos quase que desapareceram.
A
Lady ia e vinha, enquanto que a Pantufa, segui-a com o olhar.
Por alguns dias, tentei evitar dar atenção às duas,
mantendo-me até mais tempo fora de casa.
Aos poucos, a paz retornou e foi maravilhoso vê-las cada vez
mais juntas.
A interação das duas foi tão maravilhosa que senti que a
Pantufa deixou de estar tão ansiosa à minha espera como antes acontecia.
As duas estavam quase sempre juntas. Para comer, iam sempre
juntas. E ao dormir, tenho uma foto que lhes tirei que agora partilho convosco:
Agora, ao lembrar de tudo o que aconteceu, percebo que a
reação da Pantufa não foi de raiva.
Como disse nos artigos anteriores, nem sempre conseguimos
compreender as reações dos gatos se as equipararmos às perceções humanas.
Nestes anos de convivência com os meus gatos, percebo que na
maioria das vezes, julgamos mal os seus comportamentos.
E mesmo que convivamos com eles muito tempo, estaremos
sempre muito longe de os conhecer por inteiro.
No entanto, ouso explicar um pouco do comportamento que a
Pantufa teve ao ver uma nova gata em casa.
A Pantufa amava-me muito. O seu amor era tão intenso que não
queria me repartir com ninguém. Outro gato em casa era um completo desrespeito ao
amor que ela sentia por mim.
Penso que a Pantufa acabou por aceitar a Lady também por
causa do amor que nutria por mim.
Eu mostrei-lhe que fiquei muito triste com ela por causa da sua
agressividade comigo e com a Lady, deixando de falar com ela e não lhe fazendo
festas.
Custou-me fazer isso, mas tinha de o fazer para mostrar-lhe
que também a Lady precisava estar ali e que a casa dava para acolher as duas.
E depois a Lady tinha uma forma muito própria de apaziguar
tudo à sua volta. Esse seu dom de fazer a paz e a concórdia revelou-se depois
mais concretamente quando vieram outros gatos para a nossa casa.
Após os primeiros dias de muita inquietação, finalmente pude
ir vendo que a Pantufa aceitou a Lady na sua companhia.
No entanto, o temperamento da Pantufa sempre foi muito
complicado. Lembro-me que uma vez resolvi colocar uma coleira em cada uma
delas. Como a Lady, era a mais fácil de aceitar novidades, pus-lhe primeiro a
coleira.
Quando a pantufa viu que lhe tinha colocado a coleira, foi
uma guerra tal que a Lady teve de fugir dela para debaixo da cama.
Tive de tirar a coleira da Lady o mais depressa que pude
para que a paz voltasse entre as duas.
Estas reações da Pantufa perante novas coisas e cheiros
sempre acompanharam os anos que se seguiram, impedindo-me de trazer novos gatos
para casa.
Aliás, até a ida ao veterinário tornava-se também uma grande
dificuldade, porém esse assunto prefiro alongar-me melhor no meu próximo artigo
em que falarei das idas da pantufa ao veterinário que se tornaram verdadeiras aventuras
de terror.
(continua no próximo
artigo)